Karaí
Identidade “Índio”




Em 2016 o Brasil vive o ápice de uma grande crise que paira entre as áreas da política, da economia e até mesmo de sua própria identidade.



Há quem diga que o momento é de devolver o País aos Índios, junto a um grande pedido de desculpas.



Mas se para o “povo branco” o Brasil está uma desordem, imagine para as tribos indígenas que, ao longo dos séculos, precisaram abrir mão do próprio modo de habitar o seu lar.



“Há uma diferença muito grande em 500 anos atrás, quando tínhamos toda uma organização, qualidade de vida, muita coisa legal. Depois, infelizmente, precisamos vir trocando algumas coisas: diminuindo a alimentação da natureza, pois a mata foi acabando, até precisarmos ir para o lado do povo branco, não por que estamos deixando de ser Guarani, não - isso é um engano - mas por que vivemos uma guerra no papel”, confessa, Karaí.





E afinal de contas, o que significa ser índio hoje?


Natural de Camaquã, Karaí, cujo nome em português é Miguel Alexandre Brizoela, tem 60 anos e faz parte da tribo Mbya Guarani que vive há 15 anos em Riozinho, um pequeno município do Vale do Paranhana, no Rio Grande do Sul.


No ano 2000 ele deixou sua terra natal em busca de melhores condições de vida ao lado dos pais e do irmão.


A partir daí, Karaí atuou como agente de saúde e desde 2004, como cacique da tribo. Em 2016 passou a responsabilidade para seu irmão mais novo, Felipe.
Foto da Família
Para Karaí, a forma principal de preservar a cultura Guarani é a língua, que independe de tempo ou lugar para ser ensinada. “Isso não queremos perder, queremos que as crianças aprendam a cultura da gente, por isso, a língua é passada dos mais velhos para os mais novos.


Também o canto, dentro da nossa cultura é muito grande, ele dá força para o Guarani, para as crianças e para os mais velhos”, conta. Já outros costumes como a caça e o cultivo de plantas e ervas medicinais exigem um espaço amplo e de convivência na natureza, o que pouco existe para o povo indígena hoje em dia.
Karaí com artesanato Com a diminuição das áreas ofertadas às tribos, o valor cultural agregado ao artesanato é outra tradição indígena que vai se perdendo.


Por não ter mais como retirar da natureza a tinta para colorir suas peças, os Mbyas de Riozinho produzem artigos utilizando tintas industrializadas.


São animais entalhados em madeira e cestos vendidos para tentar garantir o sustento da comunidade. “Algumas vezes me sinto negativo, pois não era para o Guarani se demonstrar dessa forma, mas não temos outra forma de sobreviver, senão aceitando a chegada do povo branco, aceitando algumas coisas como saúde, educação...” , desabafa Karaí.
Karaí com artesanato

Com a diminuição das áreas ofertadas às tribos, o valor cultural agregado ao artesanato é outra tradição indígena que vai se perdendo. Por não ter mais como retirar da natureza a tinta para colorir suas peças, os Mbyas de Riozinho produzem artigos utilizando tintas industrializadas.


São animais entalhados em madeira e cestos vendidos para tentar garantir o sustento da comunidade. “Algumas vezes me sinto negativo, pois não era para o Guarani se demonstrar dessa forma, mas não temos outra forma de sobreviver, senão aceitando a chegada do povo branco, aceitando algumas coisas como saúde, educação...” , desabafa Karaí.
Ao todo, habitam a comunidade de Tekoa Itapoty – nome Guarani que significa Aldeia Flor da Pedra - seis famílias formadas por pouco mais de 30 pessoas, em sua maioria, crianças. Além de frutas, podem ser doados a elas alimentos como feijão, arroz, milho, farinha de trigo e carne de frango e gado. Roupas também são bem-vindas, principalmente de inverno e em tamanhos variados para as crianças.


O acesso à aldeia da comunidade Mbya Guarani de Riozinho é pela RS-239, pouco depois que o asfalto vira terra de chão batido. O caminho é o início da ligação entre o município do Vale do Paranhana e Maquiné.